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6 de set. de 2012

Insisto, o problema é a memória eterna.


Nas redes sociais como em qualquer outro veículo de comunicação, tudo o que se escreve, lê, fala ou cala, curte, posta, baixa, cadastra ou gesticula, reflete o que as pessoas são, pretendem ser, ou esperam que as outras pessoas sejam no dia a dia.

Seja uma conversa entre amigos ou uma negociação entre marcas. Um desabafo indignado ou uma alegria compartilhada. Um comentário fútil, impensado ou uma reflexão profunda sobre a vida em sociedade. Como todas são formas de comunicação, óbvio que sempre há alguém recebendo esta informação, ou seja, quem a produz, emite algo a um receptor que entende ou não.

Calma, não vou entrar em detalhes de português, linguagem ou teorias da comunicação. Apenas quero ressaltar que não apenas na internet, mas em todo  lugar e a todo tempo você está sendo visto, filmado, fotografado. Não somos visíveis apenas a quem nos interessa. Portanto, ninguém está privado da temerária exposição pessoal perante o(s) outro(s).   

Se isto é verdade, porque então a discussão sobre a privacidade ganha relevância extrema apenas na internet, principalmente nas redes sociais?

Insisto. Em todo lugar estamos expostos, em uns mais, em outros menos, mas sempre expostos. A única diferença das redes, ou o único problema, é a memória eternética. Traduzindo: a memória “eterna” na “internet” que não conhece a “ética”. Ela conhece apenas o on-off. Você é responsável pelo que faz.

Quer dizer que a privacidade na rede mundial de computadores e nas modernas redes sociais é relativa? Sim. Pense nestas situações: Quem sai nas ruas com uma redoma insulfilmada e libera sua visibilidade só quando quer? Em uma conversa de boteco, quem está preocupado se alguém está ouvindo ou se tem câmeras filmando seu comportamento? Ao entrar no ônibus, no elevador, no Trem ou no Metrô, como evitar o tempo inteiro que todos te vejam?

Cada um reflete nas redes o que é na vida cotidiana. Claro que existem exceções de pessoas que se assemelham a propaganda de fast-food. Anunciam uma imagem, mas quando o consumidor recebe o produto fica frustrado com a diferença (tipo foto de hambúrguer envolvente, com realidade deprimente). Nestes casos, surge a constatação: as imagens e palavras do pseudo-perfil pessoal online, ou simplesmente fake, revelam a real vida medíocre do indivíduo. Mas exceções à parte, qual o problema de ser visto, ouvido, lido, etc., por quem está à sua volta?

Absolutamente nenhum. Insisto, o problema é que, diferentemente da vida real, a memória no mundo virtual nunca esquece nada. Um pequeno tropeço na rua que geraria alguns risos sarcásticos; um desabafo do qual você se arrepende cinco minutos depois; uma estratégia mal elaborada ou uma ação precipitada. Na vida real durariam alguns instantes, horas, dias, meses, no máximo anos de chacotas, punições e prejuízos, já na esfera digital, tudo isto fica eternizado.

Não adianta cancelar a conta, alguém já viu, compartilhou, salvou e você se danou. Ah, eu fui inocente! Inocente sim, mas muito útil aos fofoqueiros de plantão.

Por isso, a preocupação deve ser mais com o que podemos fazer a nosso favor, do que com o que podem fazer contra nós. Enfim, se você têm dúvidas de que a sua informação, do jeito que você pretende transmitir, considerando todos que podem ver, não pode ser dita em praça pública, cuidado. Pois algo de muito ruim pode seguir a sua vida para sempre. E como um vírus assintomático, aparece, some e reaparece quando você menos espera, matando seus esforços para construir uma imagem impecável.

Insisto, a internet não esquece nada. 
Mas você pode fazer com que ela só se lembre de coisas boas, ou no mínimo, coisas que comunicam a favor da sua vida pessoal, social e profissional.

Você é a sua privacidade
Não transfira esta responsabilidade a quem só recebe o que você dá.

Atenção: a opinião expressa neste texto não significa que o autor pensa que não devam existir leis para o mundo online, aliás, somos uma sociedade virtual, com consequências reais e eu estou falando de conduta pessoal autodefensiva, não de crimes cometidos por mal intencionados.

Boa sorte.


3 de set. de 2012

Vou embora e volto quando eu quero.


Há algum tempo perdi o medo da desaprovação dos meus atos e palavras, porém, isto não significa uma chancela para atitudes que ofendam os outros, ainda que posteriormente justificadas com a expressão: “Ah, eu não ligo para o que os outros dizem.” Se hoje não dependo mais da aprovação alheia, não é porque isto não importa em nenhum aspecto, apenas não pauta minhas decisões (não faz mais o coração bater rápido ou lento). Mas quem pode negar que um elogio exalta e que um parecer negativo gera a repentina bad impression?

Claro que isto também não vale para todos, há aprovações que não são aprovações das quais se dependa, mas opiniões das quais surgem novas motivações. São as pessoas que amamos; e mais do que isso, são as opiniões das pessoas que temos certeza que nos amam. Destas sim, não quero aprovações, quero mesmo é obter inspirações, e neste caso, vale até a oposição.

Mas porque estou falando deste assunto depois de tanto tempo sem escrever? Simples, tanto quanto me livrei da necessidade de aprovação, não quero mais estar preso à cobrança imposta por um compromisso que na verdade não existe. Quando percebi que garimpava temas para preencher espaços virtuais, e com isso, surgia dentro de mim uma ânsia pela adesão do outro lado, comecei a crer que mais sentido teria em minhas palavras se elas não dependessem de nada nem de ninguém para existirem. Fosse aqui ou ali, fosse para este ou aquele.

Pior ainda, quando comecei a perceber que precisava atenuar a gravidade de algumas palavras ditas dentro de certo contexto, porque este ou aquele teria este ou aquele sentimento...enfim, percebi que não pode haver limite na expressão, pelo menos para mim não pode haver autocensura. Ou defendemos a nossa plena liberdade que garanta a liberdade alheia como o outro a entende, ou será sempre uma nossa jaula de prazer pessoal à qual damos o nome de liberdade; e isto, claro, se quem nos interessa está do nosso lado da grade.

Quando notei sentido comprovado nisso, passei também a perceber que somente algumas coisas são infinitas: Deus (pra quem crê), o Amor (pra quem vive), o Universo (pra quem pesquisa), os Números (pra quem calcula) e as Palavras (pra quem escreve). Consequentemente, quando cada um no seu quadrado faz o que sabe e o quer com Amor, não pode haver limite, pois não pode haver esquadro que limite o amor, mutilando suas possibilidades infinitas.  

Portanto, escrevo por que amo escrever, aliás, ganho a vida com isso, escrevo por que preciso por pra fora, mesmo assim, vou embora e volto quando eu quero. Por isso me identifico nesta frase: “...escrevo para nada e para ninguém, quem me ler será por conta própria e auto-risco”, da banalizada Clarice das redes. Ao mesmo tempo, fico imensamente grato pelas pessoas que me leem e por aqueles que cobram que eu escreva, pena que eu não me cobro mais e nem preciso de aprovações alheias.

Já me livrei.

Quando volto aqui pra deixar combinações infinitas de palavras controversas, mesmo que sejam críticas, é porque alguém que amo e que me ama, inspirou-me a escrever. Então, tudo tem sentido, cada coisa me importa.