Nas redes sociais
como em qualquer outro veículo de comunicação, tudo o que se escreve, lê, fala
ou cala, curte, posta, baixa, cadastra ou gesticula, reflete o que as pessoas
são, pretendem ser, ou esperam que as outras pessoas sejam no dia a dia.
Seja uma conversa entre amigos ou uma negociação entre
marcas. Um desabafo indignado ou uma alegria compartilhada. Um
comentário fútil, impensado ou uma reflexão profunda sobre a vida em
sociedade. Como todas são formas de comunicação, óbvio que sempre há alguém recebendo esta informação, ou seja, quem a produz, emite algo a
um receptor que entende ou não.
Calma, não vou entrar em detalhes de português, linguagem
ou teorias da comunicação. Apenas quero ressaltar que não apenas na internet, mas em todo lugar e a todo tempo você está sendo visto, filmado, fotografado. Não somos visíveis apenas a
quem nos interessa. Portanto, ninguém está privado da temerária exposição pessoal perante o(s) outro(s).
Se isto é verdade, porque então a discussão sobre a privacidade ganha relevância extrema apenas
na internet, principalmente nas redes sociais?
Insisto. Em todo lugar estamos expostos, em uns mais, em outros
menos, mas sempre expostos. A única diferença das redes, ou o único problema, é
a memória eternética. Traduzindo: a memória “eterna” na “internet” que não conhece
a “ética”. Ela conhece apenas o on-off. Você é responsável pelo que faz.
Quer dizer que a privacidade na
rede mundial de computadores e nas modernas redes sociais é relativa? Sim. Pense
nestas situações: Quem sai nas ruas com uma redoma insulfilmada e libera sua
visibilidade só quando quer? Em uma conversa de boteco, quem está preocupado se
alguém está ouvindo ou se tem câmeras filmando seu comportamento? Ao entrar no
ônibus, no elevador, no Trem ou no Metrô, como evitar o tempo inteiro que todos
te vejam?
Cada um reflete nas redes o que é na vida cotidiana. Claro que existem
exceções de pessoas que se assemelham a propaganda de fast-food. Anunciam uma imagem, mas quando o consumidor recebe o
produto fica frustrado com a diferença (tipo foto de hambúrguer envolvente, com
realidade deprimente). Nestes casos, surge a constatação: as imagens e palavras
do pseudo-perfil pessoal online, ou
simplesmente fake, revelam a real vida medíocre do indivíduo. Mas exceções à parte, qual o problema de ser visto, ouvido,
lido, etc., por quem está à sua volta?
Absolutamente nenhum. Insisto, o problema é que,
diferentemente da vida real, a memória no mundo virtual nunca esquece nada. Um pequeno tropeço na rua que geraria alguns risos sarcásticos; um
desabafo do qual você se arrepende cinco minutos depois; uma estratégia mal
elaborada ou uma ação precipitada. Na vida real durariam alguns instantes,
horas, dias, meses, no máximo anos de chacotas, punições e prejuízos, já na
esfera digital, tudo isto fica eternizado.
Não adianta cancelar
a conta, alguém já viu, compartilhou, salvou e você se danou. Ah, eu fui inocente! Inocente sim, mas muito útil aos fofoqueiros de plantão.
Por isso, a preocupação deve ser mais com o que podemos
fazer a nosso favor, do que com o que podem fazer contra nós. Enfim, se você têm
dúvidas de que a sua informação, do jeito que você pretende transmitir,
considerando todos que podem ver, não pode ser dita em praça pública, cuidado. Pois algo de muito ruim pode seguir a sua vida para sempre.
E como um vírus assintomático, aparece,
some e reaparece quando você menos espera, matando seus esforços para construir
uma imagem impecável.
Insisto, a internet não esquece nada.
Mas você pode fazer
com que ela só se lembre de coisas boas, ou no mínimo, coisas que comunicam a
favor da sua vida pessoal, social e profissional.
Você é a sua privacidade.
Não transfira esta responsabilidade a quem só recebe o que você dá.
Atenção: a opinião expressa neste texto não significa que o autor pensa que não devam existir leis
para o mundo online, aliás, somos uma sociedade virtual, com consequências reais e eu estou falando de conduta pessoal autodefensiva, não de crimes cometidos por mal intencionados.
Boa sorte.
Leia também: Pelo direito de uma vida público-privada.