Os livros sempre fizeram parte da minha vida. Lembro que meu pai – meu herói – mesmo não possuindo muito estudo, era um consumidor assíduo dos vendedores de enciclopédia; no começo, eu ainda pequenino, não fazia a mínima ideia do motivo pelo qual aquele homem colecionava tantos livros em uma estante, que tomava 50% da grande sala da minha casa. Mesmo não havendo mais espaço ele continuava a comprar e meu questionamento aumentava. Porque ele não abria os livros para ler, nem a minha mãe? – ela, pelo menos, folheava aqueles monumentos de capa dura com imagens esplendorosas – principalmente um de nome: As Plantas que Curam.
Não havia muito que fazer na rua, eu não era dono de bola de futebol e jogava tão mal, que sempre ficava por último na escolha dos amigos, então, preferia não sair de casa para isso, quando ia empinar pipa, passava alguns instantes e era taiado/cortado (como se dizia lá em Mauá), e como não tinha coragem de sair na rua para reclamar os meus direitos, preferia voltar para dentro de casa, acontecia a mesma coisa quando perdia um pião na sela, ou quando perdia minhas bolinhas de gude. Em meio a estes dramas da infância, descobri como eram ricos os livros e como eles eram amigos que não me tiravam nada, só acrescentavam. Passei a ter uma relação diária com eles e ia viajando em cada página, prestando atenção em cada detalhe e arriscando repetir em voz alta os termos mais difíceis – neste tempo também conheci o Aurelião, com quem convivo lado a lado até hoje.
Os anos foram passando e minha biblioteca foi aumentando, lembro até de uma vez que forcei meu pai a comprar uma coleção, ameaçando não parar de chorar nunca mais – ele comprou é claro – o nome da coleção era: Porque? Conheci a as enciclopédias Barsa, Conhecer o Brasil, Conhecer o Universo, Coleção Vaga-Lume e os mais variados autores, pensadores, poetas e filósofos, além de todas as versões de dicionário disponíveis. Por causa disso, meu pai era feliz e minha mãe também, pois os livros me mantinham longe de alguns perigos e eu não ir mal na escola. Todo o esforço do meu pai, começou a ter sentido na minha escolha pelos livros, agora sim eu sabia, foi em prol da minha educação que ele comprou o que não pode receber um dia. Folheando aquelas páginas, vivia dias mágicos, eu conheci o mundo e suas criaturas, nada era impossível para os livros, tão pouco para mim, bastava ler uma página e fechar os olhos, lá estava eu, aonde quisesse estar.
Hoje é o Dia do Livro, pode-se dizer também Dia da Cultura, e eu não poderia deixar passar esta data sem fazer uma homenagem aos meus amigos inseparável, devo o que sou também a eles e por isso seguro-os com minhas mãos todos os dias da minha vida, assim me sinto seguro e motivado a sonhar para concretizar estes sonhos. E ainda que meus amigos venham a se tornar uma tela de computador/tablet/smartphone, quero todos os dias trazê-los diante dos olhos e seguir em frente me espelhando em seus ensinamentos, e acreditando que o melhor há de vir, porque a sabedoria que emana destas páginas infinitas espalhadas pelo mundo, são o meu destino infinito de conhecimento – sei que nada sei, mas com eles posso tudo. Ou não está escrito no mais celebre de todos os livros, que Deus é o Verbo e o Verbo é a Palavra escrita no Livro que tudo fez, inclusive a vida? Para todos os crêem e aos que não crêem, podemos dizer juntos: o Livro é tudo! Deixe-o levar para o infinito. Esta é a história do livro na minha vida; e a sua, qual é?