Uma opinião é válida quando permite que outra venha ao
encontro para questionar, somar, filtrar ou controverter, mas, definitivamente,
uma coisa não pode ser tolerada hoje em dia, o desrespeito público à liberdade
alheia, seja este desrespeito manifesto por palavras, atos ou gestos.
Não vou pegar carona na popularidade do Papa em sua visita
ao nosso país, pois isso apenas repercutiria o que muitos já falaram e, com
certeza, minha fala amadora seria menos relevante que as matérias
profissionais. Também não vou condenar os manifestantes contrários à JMJ (nomeadamente a marcha das vadias), já
que isto seria muito fácil, pois eu sou católico e tenho um repertório de milhões
de fiéis estudiosos ou não que falam a meu favor, eu seria só um papagaio a
defender meu ponto de vista com afirmações de outrem em novas roupagens
interpretativas, isso sem contar que até pessoas contrárias à Igreja enojaram tais manistações vadias.
Então, me restou apenas uma coisa para preencher este
espaço, vou escrever sobre contradição, hipocrisia e mediocridade.
Contradição é quando uma pessoa (incoerente) proclama uma
antítese daquilo que acredita, acreditando estar fazendo a coisa mais correta
que existe, ou seja, por um descuido de planejamento racional ou intelectual,
acaba falando algo que contradiz sua própria luta, até o ridículo de se
autocombater, como uma espécie de manifesto autoimune fadado ao fracasso e
semelhante à expressão popular: pobre coitado...cava ele(a) a própria cova.
Já a hipocrisia tem diversas vertentes interpretativas que podem
ser aplicadas em diferentes circunstâncias e ambientes de convívio social, mas,
frequentemente, talvez na maioria das vezes, esta palavra é aplicada ao
ambiente religioso e ideológico. Em suma, hipócrita (manifestante de fingidas
virtudes) é aquele que não tem vergonha de ser pego fazendo aquilo que condena.
Claro, quando sua percepção tem condições de compreender que está factualmente
distante de seus discursos (do contrário, o coitado nem percebe), aqui, diga-se de
passagem, discursos capazes de cobrar do outro um peso e uma medida jamais antes
por ele(a) testemunhados.
E medíocre é todo aquele que atinge um patamar qualitativo que
lhe confere o rótulo, por ele mesmo nele estampado, de ser chamado e
reconhecido como “desprezível”. Ainda que muitos o prezem, nada mais são,
unidos, do que um monte desprezível de seres medíocres, sofríveis e vulgares. Bradam
ferozes e sem limites, atropelando tudo e todos. Nunca conquistaram nada em
suas vidas e tão pouco construíram algo pelo que se vale a pena investir
credibilidade, mas odeiam sem razões racionais os grupos que pensam diferente e hoje ocupam um certo lugar de evidência e relevância na sociedade (não obstante as contrariedades
causadas para ocupar estes espaços, ainda assim é preciso ter conquista semelhante para poder combater).
Não quero atribuir estas palavras a ninguém, mas quando uma
pessoa se levanta contra a liberdade da outra, liberdade essa, aliás, por todos
defendida aos gritos, soma as três categorias acima em si mesma,
transformando-se em tudo aquilo que ele combate e materializando o atroz desrespeito com o qual nunca quer ser tratado.
Isto foi o que refleti durante os últimos dias, percebi que
muitas vezes fui contra o que acredito por me outorgar o direito ilícito de determinar
modo de vida ao outro, esquecendo que se não há liberdade não há adesão pura. E
toda discussão é vazia se ambas as partes não estão dispostas a escutar
seriamente e sem alienações subjetivas a verdade que rege a vida do outro, considerando
suas causas reais e sinceras circunstâncias.
Desejo que este texto seja um norte para minhas relações e
ajude-me a ser mais coerente com o que acredito, ao ponto de permitir ao outro
questionar-me livremente sem ser punido com o distanciamento do meu respeito e
bons tratos. Mas desejo também que o leiam os fieis das denominações religiosas
e das religiões, que o leiam os de opção homossexual, as feminista, os
espiritualistas, os ateus, os que não estão em nenhum desses grupos e os que
trafegam por todos eles...
Quem sabe possamos inaugurar uma cultura de real liberdade,
respeito e convivência harmoniosa, como uma unidade na diversidade. Construída por
meio de discussões maduras onde a “opinião” não seja um “pseudo-deus” pelo qual
mato e morro sem nenhum proveito, mas seja um elemento de desenvolvimento humano
que permita a todos uma vida feliz e livre.
A vida é mais que um octógono de opiniões e mudar o mundo exige mais força pacífica do que podemos imaginar.