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19 de out. de 2012

Um parafuso solto e dois amigos muito loucos.


Como toda noite, após minhas aulas, e depois de passar pra pegar a namorada na faculdade, lá vinha eu pela Avenida 23 de maio, na velocidade máxima de 70 km/h, de repente, chega a curva à direita que dá acesso à Radial Leste. Reduzo a velocidade...50, depois 40, e pronto, preparado pra fazer a curva como manda o figurino, mas, ao completar a curva, bem embaixo de uma ponte, PLAFT!

Este foi mais ou menos o barulho que fez a roda esquerda do meu poisé 2003, travando tudo que se chama movimento – começava ali, às 22h45min do dia 18 de outubro de 2012, o acidente do parafuso quebrado, que revelaria dois novos amigos e o companheirismo de uma mulher, que hoje faz toda a diferença em minha vida.

Bom, preciso relatar os principais fatos, para que todos saibam como se deu o desenrolar do problema, até a sua solução.

O primeiro pensamento da namorada foi: jogaram uma pedra na frente do carro para nos roubar. Claro que isso não foi verbalizado, acredito que devido ao medo do pensamento se concretizar. Eu, estava assustado, querendo me apavorar, e ao mesmo tempo, devendo a ela uma postura equilibrada. Pensei. Parei com a agitação interior. Decidi descer do carro...mas, a porta do meu lado não abria...@#$%&*, saí pela janela, coloquei o triângulo a 10 metros do carro e enfim, liguei para o serviço de guincho...

Se deu certo? Quem me dera. Deu tudo errado e por quase uma hora, fiquei ali no frio, com medo de um assalto e com pena da namorada. Então falei pra ela: pega um taxi e vai pra casa. Fiquei com medo dela aceitar rs; Ufa! Ela disse: não vou te deixar sozinho. Como foi gostoso ter certeza que teria alguém ao meu lado naquele tormento.

Após ter passado muita raiva e ter sido extorquido pela empresa Car System, fui informado da não cobertura de guincho para casos de problema na suspensão. Pois seria necessário um guincho especial e eu teria que desembolsar uma grana, equivalente ao dobro do valor pago pelo serviço de guincho durante todo o ano – revolta – indignação, discussão por telefone e a hora passando, o medo aumentando, o frio também; sem contar os carros freando em cima do triângulo, pois eu estava parado bem na curva.

Tudo bem! Eu vou pagar o que vocês querem; pode ser no débito ou crédito? Respondeu o famigerado atendente: "NÃO! O serviço de guincho não aceita cartão". Ou seja, eu deveria andar com cerca de R$ 300,00 no bolso para o caso de um acidente desta natureza – absurdo!

Neste momento, surge a salvação inesperada. Um motorista de guincho por acaso passou e perguntou: precisa de ajuda? SIM, eu disse. Ele parou, conversamos rápido, e em 10 minutos já estávamos seguindo para uma mecânica de um amigo dele, que atende quase 24 horas por dia. O nome do motorista é Ricardo, que nos alertou: "o Carlão da mecânica tem a cara fechada, mas é gente boa".

Chegamos lá. Desceu o carro. O tal do Carlão nem me deu boa noite e já começou a fuçar no carro, fiquei preocupado e pensei: que cara estranho, nem perguntou nada, nem cumprimentou, mas enfim, fiquei quieto, claro, eu estava em apuros – era 00h20min.

Foi quando do mais profundo silêncio surge a voz do Carlão, dizendo: "uma vez aconteceu isso comigo na praia e tem mais, você reza?" Respondi: sim, eu rezo. Então de graças a Deus, porque se você estivesse a 100 km/h, não estaria aqui pra concertar seu carro.

A partir destas palavras, tudo naquela noite fez sentido, até as dificuldades que se somaram ao acidente. Percebi logo que ali havia um homem inteligente, profissional e espiritual. Começou a falar um monte, brincar, acalmar a gente. Trabalhava intensamente para resolver o problema do parafuso quebrado. Até comida ele nos serviu. Depois de duas horas de trabalho ele disse: "vai em paz, bom retorno para casa".

Estes dois profissionais, o Ricardo do guincho e o Carlão da mecânica, além de me edificarem como pessoa e ajudarem no resgate de diversos valores humanos, cobraram juntos, menos do que o desgraçado serviço já pago de guincho queria me cobrar, apenas para levar o carro até a garagem da minha casa, sem nenhum outro serviço adicional.

Chegamos em casa quase quatro horas da madrugada, mas o parafuso que se soltou, permitindo conhecer estas duas pessoas, transformou uma noite que tinha tudo para nunca mais ser lembrada, em uma noite para nunca mais ser esquecida, com louvor a Deus.

Para muitos pode ser uma história boba, mas para mim foi um resgate de muitos valores. E eu devia esta propaganda a eles, com uma declaração a ela rs.

O modelo de rua que desfilou na internet.


Tudo começou na última terça-feira, 16 de outubro, quando Rafael Nunes da Silva abordou Indy Zanardo e fez o seguinte pedido desconexo: “tire uma foto minha que eu quero ficar famoso no rádio.” Ele é inteligente e parecia já ter percebido o comportamento característico da frenética vida moderna, do qual fazemos parte e sequer nos damos conta disso. Ou seja, ao pedir uma foto que repercutisse no rádio, ele afirmava duas coisas que fazem parte do nosso cotidiano.

A primeira é que vivemos num mundo onde a comunicação é multiplataforma, então, basta você fazer parte de uma mídia, para em pouco tempo repercutir em todas elas. E a segunda coisa, que infelizmente não se constitui um avanço, mas um regresso, é que atualmente a vida real precisa se tornar conteúdo virtual para aparecer aos nossos olhos.

Afinal, quantas crianças, adolescentes, adultos e idosos, sofrem do mesmo problema trágico de Rafael Nunes e não são repercutidos com tanto sucesso? Claro, eles não têm o padrão de beleza estética que causa a admiração dos nossos olhares, viciados em selecionar as pessoas pelas aparências e não pela importância humana. Não me excluo disso e não quero generalizar, mas somos todos, ou pelo menos a maioria, vítimas dos condicionamentos impostos pela própria mídia que repercutiu o modelo de rua, porém, não consegue repercutir eficazmente o modelo da verdadeira vida nas ruas.

Quer ver como eu não estou exagerando? Qual foi o primeiro pensamento que veio à cabeça das pessoas? Ah...isto tem cheiro de estratégia de marketing; isto é mais um viral de marca na internet; olha outra propaganda aí; e mais que isso, teve até o oportunismo de uma marca que pegou carona na fama de quem não tem grana, pra ver se ganhava algum retorno de engajamento (ROE). Eles apagaram a postagem, mas eu já havia printado a tela do pretenso marketing de emboscada da Barbearia Clube.

Clique na imagem para ampliar.

Enfim, o que podemos aprender com tudo isso? Podemos aprender que vale a pena de vez em quando, tirar os olhos das telas dos computadores de mesa, de colo e de mão, para dar uma espiada em volta. Quem sabe encontramos mais Rafaeis que queiram ser fotografados e popularizados, pra ver se a gente enxerga a realidade. Tudo bem que os familiares do ex-modelo relatam nas matérias dos jornais, o fato de ele “não querer” sair das ruas (como se atualmente ele conseguisse decidir por algo em sã consciência) e dizem ainda: “das várias vezes que foi internado, nenhuma durou mais que dez dias”, porém, existem muitos outros que querem ser ajudados, e estes, ainda estão sem likes, comentários ou compartilhamentos.

É como falei na conversa com minha prima,  Clau Boaventura, antes de escrever este texto: "Se a beleza de Rafael Nunes da Silva servir para reacender uma discussão que leve a alguma solução, tá valendo a grande repercussão." 

Talvez você entenda melhor meu interesse pelo caso, ao ler também o texto: QUEM.

(Sobre as milhares de meninas e mulheres que se ligaram mais na beleza dele do que na realidade dramática deste problema social, esta é uma grande oportunidade para repensar o lugar da procura do pretenso homem dos sonhos rs.)