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29 de jan. de 2012

Marketing de faxada in-sustentável


Este ano concluo o curso de Propaganda e Marketing e nada me intriga mais, especificamente no Marketing, que as insistentes afirmativas de valorização dos clientes e sua importância determinante nas tomadas de decisões estratégicas para uma empresa/marca/produto. Não me lembro de uma única aula teórica de marketing em que não tenha ouvido: “o cliente deve ser a prioridade, devemos conhecer o cliente para atender às suas necessidades, ele é o mais importante capital de uma empresa e que o cliente isso, e que o cliente aquilo...”, portanto, o cliente/consumidor constituía uma espécie de semideus no mercado, ele ditava as regras, estabelecia doutrina e habitava no incólume castelo onde sua vontade imperava soberana sem jamais ser discutida, imortalizada pelo ditado: o cliente tem sempre razão; consequentemente, meus amigos e eu, quando no mercado, não poderíamos nos atrever a fazer outra coisa senão viver em função deste dogma, pois somente isto seria a glória de uma instituição paradisíaca – a empresa perfeita.

Assim funcionava meu ingênuo raciocínio, até que um dia, o que lá no fundo eu suspeitava com sutil desconfiança, revelou-se verdadeiro. Ouvi de um sábio docente: “se o cliente não é fiel e rentável, mesmo sendo cliente e estando interessado, não compensa investir nele”; entendi que, em certo sentido, e, em momento específico, há exceção. Também no marketing uma pessoa pode valer apenas cifrão e sua necessidade ou desejo passa a ser um nada, em relação à necessidade ou desejo da empresa. OMG (Oh my God!), o castelo era de areia, minha ingenuidade colossal e as teorias não passavam de pseudo verdades do marketing ortodoxo. As escamas caíram dos meus olhos e o oculto ficou claro – veio à luz – o mundo de sempre continua a ser o mesmo mundo de antes, apenas as formas de relacionamento entre as pessoas adquiriram outros nomes e estruturas maiores, realizando porém, a mesma troca de valores. Claro que com a conveniente esperteza da natureza humana aperfeiçoada no curso da história. Chegando a ser apenas, não sempre, “uma troca de valores por quem não tem mais valores”.

Dramas à parte e ironia também, esta é a realidade, somos vítimas da verdade do segundo parágrafo acreditando porém, fazer parte do que foi escrito no primeiro.

Nós sabemos da existência deste processo de supervalorização da empresa, em detrimento da valorização do cliente. E se não fazemos nada para mudar é porque deve estar confortável, ou pelo menos aceitável e suportável – duvido – mas enfim, o que me inquieta não é  somente a constatação destes fatos, sempre que esperamos nas imensas filas dos estabelecimentos, ou o tempo perdido tentando falar com as atendentes no call center, ou a qualidade do produto/serviço comparada ao preço, nem mesmo o atraso revoltante na entrega de uma mercadoria adquirida via internet. O que realmente causa frustração, é aprender a fazer veneno na Universidade e vende-lo como remédio, mesmo  sabendo o efeito colateral provocado ao ingeri-lo. Além disso, para o produto/serviço não ser rejeitado pelo cliente, as estratégias de marketing recebem a camuflagem da Propaganda, ela  torna tudo esteticamente belo, visual e auditivo; o veneno passa a ter rótulo de remédio, gosto de xarope e resultado de sonífero. Mas caso você esteja interessado numa crítica mais fundamentalista sobre o assunto, pode encontrar no livro A Publicidade é um cadáver que nos sorri de Oliviero Toscani, porém não reproduz minha opinião, apesar de acreditar neste extremo de ganância em casos pontuais.

Calma gente! Não estou massacrando minha própria profissão, e a partir de agora, afirmo a possibilidade de um caminho diferente, despontando ainda tímido no horizonte, porém em momento muito pertinente. Sabe qual é este caminho? Tornar o sonho do primeiro parágrafo uma realidade, transformando o segundo parágrafo em passado. Quem chegar primeiro ganha o filão por competência, quem tratar o cliente como trata a si mesmo terá o mundo em sua...ia dizer mão, mas pra não soar clichê, direi: terá o mundo em seu bol$o. Isto é possível? Sim! Se o marketing e a propaganda forem veículos de propagação da verdade, este caminho pode ser trilhado com sucesso. No entanto, se o caminho a ser seguido daqui para frente não for este, esquece esta conversa de responsabilidade social, ambiental, sustentável e blá, blá, blá. Hoje o marketing e a propaganda estão convidados, se não obrigados, a educar o consumidor a consumir. Como se colocassem uma imensa tarja de atenção do Ministério da Saúde em tudo, semelhante àquelas do maço de cigarro, para imortalizar outro ditado bem menos atraente, principalmente aos que atualmente vivem só de aparências: “tudo que é demais faz mal”...e faz mal a todos. Por isso o melhor a fazer é adotar a Regra de Ouro na Propaganda e Marketing do futuro: “o que quer que os outros vos façam, fazei primeiro a eles"...somos todos consumidores e queremos ser bem tratados – alguém vai dizer que estou abusando da analogia bíblica; estou mesmo! Mas o que há de errado nisso? Se no mundo atual veem uma marca preferida como deus, no slogam um estilo de vida e são consequentemente tratados por ela pelo título de "fiéis evangelizadores de marca"?

Consuma menos. Viva mais. Do contrário, vamos abrir concordata global do ser humano. Marketing de fachada não dá mais e consciência é saber que há lugar e dinheiro para todos neste mundo.


24 de jan. de 2012

458 anos - Parabéns sampa! Minha “cara” capital.


Eu não poderia deixar passar na frente da minha cara esta data tão especial de repercussão internacional, sem escrever algo em homenagem à Grande e Criativa Cidade de São Paulo, nascido e criado aqui, ela é minha inspiração; vou seguindo seus passos e reinventando meus estilos em cada fase da vida. 

Não é só porque ela tem o título de cidade brasileira mais influente no cenário mundial, sendo considerada a 14ª cidade mais globalizada do planeta (eu diria conectada), recebendo a classificação de cidade global alfa, por parte do Globalization and World Cities Study Group & Network (GaWC) que merece tanta repercussão, ela também é a capital  do estado de São Paulo e principal centro cultural, artístico, gastronômico, financeiro, corporativo e mercantil da América Latina. É a cidade mais populosa do Brasil, do continente americano e de todo o hemisfério sul, posicionando a Megalópole como a sexta maior cidade do planeta, definitivamente seu lema é oportuno para definir em que a Cidade de São Paulo se tornou, diante do Brasil e do mundo: Non ducor duco (Não sou conduzido, conduzo.)

E o que vemos quando ficamos cara a cara com São Paulo?
Minha prezada cidade.
Minha estimada Sampa.
Minha cara capital.

Minha cara capital revela o rosto e a face do mais selvagem capital, talvez por isso viver aqui nos custe o olho da cara, tornando muitas pessoas cegas à sua beleza. Minha cara capital revela as duas faces da moeda social, forçando ricos e pobres a dividirem os mesmo espaço territorial, criando no horizonte um aspecto imoral, certa poluição visual, porque é muito desigual (uma desigualdade expressa na paisagem da cidade e me faz lembrar a pergunta do contundente artista Pedro João Cury, meu amigo, mestre, educador e professor: O que polui mais a cidade, o carbono lançado na atmosfera ou a desigualdade estampada no seu retrato cinza estático?) Responda quem puder...quem quiser. Depois acrescente a tudo isso o trânsito infernal transfigurando o semblante de qualquer mortal, um “atrito constante a gerar energia” (Rico Lins), posteriormente canalizada para arte ou para ira. 

Mas como quem vê cara não vê coração, minha cara capital não deve ser julgada pela aparência e diante de sua beleza, não hesito em expressar o que me apaixona em sua silhueta. A cara capital é um barato, é gostosa! E é a minha cara; motivo da minha alegria ao ver tantos estilos e cores formando uma única fisionomia urbano/cultural, além das ideologias distintas, reflexo de várias opções de vida convivendo juntas, infelizmente ainda não em completa harmonia.

Exatamente por isso, minha cara capital precisa de cada um de nós, de você e eu. Ela precisa de gente que se lance com a cara e a coragem na valorização da beleza existente nas diferenças, são pluralidades desta una sociedade – pelo menos este é o ideal – e assim, revelar ao mundo uma São Paulo sem preconceitos, sem desigualdade e sem violência excludente, só então, poderemos fazer juz ao lema Non ducor duco, tornando-o uma realidade pessoal, urbana e social. No fim de tudo, quando será o verdadeiro começo, valerá a pena ter esperado a maior “cara” para conseguir a liberdade nesta cara capital. Uma oportunidade marcante na história da nossa geração, e é esta oportunidade que realmente me seduz, motiva e encanta, poder lutar a cada dia para romper as trincheiras da intolerância na minha, na nossa, cara capital. 

É meu caro amigo, minha cara amiga, este é o rosto literal da nossa cara capital.
Pena que ela seja conduzida por tantos caras de pau!


22 de jan. de 2012

Pop art na propaganda para classe C


Na minha modesta opinião, desde que Marcel Duchamp em 1913 inventou o conceito ready-made (pronto-feito), migrando um elemento da vida cotidiana, originalmente não reconhecido como arte, para o campo das artes, o mundo nunca mais foi o mesmo, nem a publicidade. Marcel foi contemporâneo do Dadaísmo, e para muitos, o dadaísta por exelência. Dadaísmo (movimento surgido em Zurique 1915 durante a guerra mundial) é a oposição a qualquer tipo de equilíbrio na arte, uma espécie de antiarte. Combinava o pessimismo irônico e ingenuidade radical ao ceticismo absoluto e improvisação. Enfatizava o ilógico para protestar contra a loucura da guerra e sua principal estratégia era mesmo denunciar e escandalizar, libertando a arte da prisão racional para que fosse apenas o resultado do automatismo psíquico, selecionando e combinando elementos por acaso.

Os ready-mades de Duchamp constituem o espírito que caracteriza o dadaísmo. Sua tendência extravagante e baseada no acaso serviu de base para o surgimento de inúmeros outros movimentos artísticos do século XX, entre eles o Surrealismo, a Arte Conceitual, a Pop Art e o Expressionismo Abstrato, dos quais, destacarei apenas alguns aspectos da Pop Art. Surgida no final da década de 50 nos Estados Unidos e Inglaterra, elevava à categoria de arte as coisas do dia-a-dia e as difundia pelos meios de comunicação de massa, em cartazes publicitários, luminosos, comestíveis enlatados, exibição de produtos, rótulos, jornais, revistas, eletrodomésticos, automóveis, sinais de tráfego, histórias em quadrinhos e etc. O artista pop vê mais sugestões estéticas em um supermercado do que em uma paisagem da natureza, abre os olhos para o mundo e compreende a beleza que está em qualquer ambiente, com as modificações que a tecnologia trouxe à vida moderna, expressando esses valores em suas criações.

Há quem diga inclusive eu, que neste momento a pop art faz o caminho inverso do movimento que a inspirou, ou seja, aquele ready-made dadaísta que protestava contra a guerra do mundo teoricamente provocada pelo capitalismo, agora assume a indumentária de arte popular para servir como soldado da guerra capitalista no campo do consumo de massa, daí então, a arte marginal começa ganhar espaço no mundo. E se no passado Andy Warhol criou para as famosas sopas Campbell’s e Coca-Cola, hoje, Mulheres Barbadas criam para o Google, Bruno Big, Fefe Talavera, Nina Moraes e Jotapê grafitam as latas de Sprite, além de Adhemas Batista, Eduardo Recife e Fernando Chamarelli que expressam suas impressões sobre a Vodka Absolut em tela, está tudo na internet.

Quando ouvimos o happer Criolo cantar, “neste labirinto místico onde os grafites gritam”, ou como cantou os Racionais MCs, “é na periferia onde vive a maioria”, concluímos: nada melhor para falar com a massa consumista, do que seu próprio idioma cultural. Onde quero chegar com tudo isso? Bom, você deve ter percebido por aí, a grande valorização de elementos característicos desta arte de rua na mídia, em campanhas conceituais de diversas marcas famosas estabelecendo tendência. Será que reconhecer estas expressões de protesto de rua como arte popular e inseri-las na publicidade, mesmo que pretensiosamente, anunciam que o povo em breve, oxalá seja muito em breve, crescerá na capacidade crítica para reivindicar sua vida, por hora escrava na mão dos incompetentes? Isto é o que eu desejo, mas infelizmente acredito que ainda não acontecerá! Este fenômeno moderno caracterizado pela ascensão da pop art tem uma relação direta com a ascensão da Nova Classe Média; sabe porque?

Preste atenção: Classe “C” no Brasil é o grupo que atualmente representa 90% da população brasileira, é responsável por 79% do consumo total de bens, atinge 69% do mercado de cartões de créditos, são 86% do total de internautas no Brasil e movimentam mais de 760 bilhões por ano. Ganham individualmente entre 1.200 a 2.000 reais, e em uma família de 4 pessoas tem renda média entre 2.900 a 4.800 reais.

Talvez todo impulso à maravilhosa pop art que tanto admiro como inspiração de vida, tenha uma raiz muito mais oportunista, mercadológica e publicitária do que de valorização artística. Através desta estratégia de comunicação, a maioria consumista, adere rápida e facilmente às marcas associadas a esta linguagem, porque amplificam seus valores e vozes, outrora ecoadas sem efeito nos guetos da periferia – sentem-se valorizados porque veem suas vidas contadas pelas marcas que consomem. E resta ainda uma última questão: Porque os artistas do protesto se rendem ao mercado? Simples; eles cantavam por melhores condições de vida e grafitavam por direitos iguais, consequentemente o mercado precisando desta voz para vender seus produtos a todos que reivindicavam com eles, respondeu ao desejo cantado e grafitado com dinheiro que lhes confere tais direitos. Agora também eles, têm status de artista e reconhecimento internacional, seja nas grandes galerias de arte em Londres ou nos grandes corredores de hipermercados do Brasil.

Não há nada de errado nisso, é apenas o ciclo de nossa vida no mundo, transformando tudo em algo que possa ser vendido e persuadindo a todos que possam comprar; ou será que não é isso?


15 de jan. de 2012

Um povo submerso e soterrado


O povo está submerso nas águas das enxurradas que levaram mais uma vez o “tudo” das famílias, quase nada, porém, tudo que aquelas pessoas conseguiram juntar, desde a última cheia que devastou “tudo o que tinham”, então, ouvimos de novo no telejornal uma senhora (como a sua e a minha mãe) dizer: eu perdi tudo...não sobrou nada...não sei o que fazer e não tenho para onde ir; cai um pouco mais de água, só que agora do rosto sofrido da mãe de família. Sim, estamos debaixo dos escombros de Ouro Preto de Minas, alagados com o Jardim Romano de São Paulo ou soterrados no Morro do Bumba e na Região Serrana do Rio, mas não queremos ficar apenas no drama triste do ano passado, neste ano também já aconteceram catástrofes “naturais”, curiosamente nos mesmos lugares da Região Sudeste afetadas ano passado, sem contar o resto do Brasil. Em cada um destes lugares estão submersas as vidas de muitos que foram enterrados de surpresa, sem chance de defesa, quando ainda não era hora de morrer; era? Então, ouvimos outra vez no telejornal um senhor (como o seu e o meu pai) dizer: eu perdi minha esposa e dois filhos...minha casa desabou...não sei o que fazer e não tenho para onde ir; mais águas deslizam, agora no rosto do pai de família. A última tragédia que tive notícia aconteceu em Sapucaia-RJ, nome que lembra a Sapucaí, onde infelizmente não desfilará um carro alegórico in memoriam destas vítimas mortas e vivas, porque se tais carros atravessassem a avenida do samba, talvez o país do carnaval entendesse que algo deve ser feito, e rápido!

O Pior de tudo, porque é a causa principal de tudo isso, é que o país está submerso em uma nódoa espessa formada por seres de uma espécie seguramente não humana, denominada “políticos corruptos”, não disse somente políticos, porque estou falando dos corruptos, maioria esmagadora entre todos os políticos e por isso, os bons, quase invisíveis no meio de tanta podridão, não conseguem nada. Assim soterrados por esta merda pior que lama, por esta corja de canalhas, não há país que sobreviva ou consiga respirar. 

No entanto, devemos levar em consideração a falta de prudência dos moradores que fazem suas pobres habitações sob as encostas ou em cima dos morros, quando não as fazem à margem dos córregos, porém, consideremos também, o desespero destas famílias por um lugar e a inércia do poder público, supostamente responsável pelo cuidado do povo, julgue você mesmo se cabe culpar o submisso ou o poderoso. Também não foi a intensidade das chuvas, aliás, facilmente previsíveis hoje em dia, ou a quantidade de lixo jogado nas ruas, apesar de influenciar significativamente, os verdadeiros culpados pelos alagamentos nos grandes centros metropolitanos e pelas vítimas dos deslizamentos nos morros, isto é culpa mesmo, da intensa falta de discernimento que tem jogado muito “lixo nas urnas”.

Passam os dias, meses e anos, aumentando nossa indignação com as declarações de especialistas falando coisas obvias, demandando tempo absurdo para necessidades imediatas, enquanto os donos do poder que não podem se sujar de lama, mesmo que tenham a consciência podre como fossa, sobrevoam as áreas afetadas e declaram: vamos distribuir aluguel social, vamos construir obras de contenção de encostas, vamos realizar ações preventivas nas áreas de risco, vamos responder o mais rápido possível às famílias desabrigadas...que tiveram os parentes assassinados por nossa inércia - quem dera reconhecessem isso. Enfim, passou um ano destas declarações e nada foi feito, e tudo se repetiu inclusive as declarações seguidas da inércia estatal (malversação do dinheiro público).

No fundo, sabemos por que o povo tem recebido pouca ou nenhuma atenção, pois a única coisa debaixo da terra que atualmente importa aos políticos é a camada pré-sal e as únicas obras que estão debaixo dos interesses dos canalhas eleitos, são as de “contenção de torcidas” para Copa do Mundo ou Olimpíadas. Não estou insinuando que façam apenas as obras públicas em detrimento das de entretenimento, mas que roubem menos e façam tudo. Povo brasileiro, tudo está em nossas mãos, acOrdem e Progresso*.

* Expressão extraída de uma pixação na Radial Leste sentido bairro, acesso ao Viaduto Engenheiro Alberto Badra.


5 de jan. de 2012

A imponente cracolândia dos impotentes


Tem circulado na mídia, sobretudo a do eixo Rio/São Paulo, as decisões de seus respectivos governos sobre o problema do crack, a pior droga em potencial destrutivo e que está circulando livremente nestes grandes centros. De um lado a polêmica decisão do poder carioca em aproveitar uma brecha no Estatuto do Menor para a internação compulsória dos infanto-dependentes, sem saber o que fazer com quem não está incluso nesta condição, já em São Paulo a polêmica é outra, sem a internação compulsória, acreditam no enfraquecimento da permanência dos “zumbis pós-modernos” na região, através do suposto combate exterminador de traficantes do  Velho Centro (daqui pra frente foco em sampa porque vivo aqui). A polêmica inclui ainda as ONGs, de cunho espiritual ou não, chegando até à simples lógica do desenvolvimento urbano, que realiza uma política higienista – mesmo que o lixo seja gente – dando espaço à Nova Luz, ironicamente acesa nas trevas sem oferecer luz aos seus condenados.


Morei por dois anos e meio na região da cracolândia, na Rua Conselheiro Nébias, Campos Elíseos, e o que via naqueles quarteirões era a máxima degradação a que um ser humano pode se submeter, em princípio por própria vontade, curiosidade ou estímulo do meio e depois, já sem condições de consciência ou domínio da própria vontade, entrega sua vida ao sacrifício sem nenhuma perspectiva, imolando com ele família e familiares, quando existem. Certas vezes ao cair da tarde ou mesmo à noite, caminhei entre aquelas PESSOAS; homens, mulheres (muitas gestantes), velhos e crianças, retrato da dignidade humana transformada em um aglomerado disforme de seres – desespero.

Qual o limite do flagelo que uma pessoa pode impor a si mesmo? O que EU sou capaz de fazer por aquela pessoa? E; o que é capaz de sensibilizar o poder público além do dinheiro movendo sua imoral conduta? O desespero aumenta. Então olhamos para o lado rico do mundo/agora falido, onde as drogas foram permitidas sobre certas condições, onde houve subsídio do governo para distribuição de entorpecentes aos usuários, ou ainda, onde se fecha o cerco às drogas sem dó nem piedade, e o que vemos? Fracasso! Não conheço uma política antidrogas, considerada modelo ou solução determinante para o problema, no máximo, e agora voltando o olhar para a América Latina, vemos países que tem a própria economia dependente das drogas – isso sim deu certo – mais desespero!

Por isso não sei bem a quem direcionar a responsabilidade pela solução do problema. Educação pública ou privada, educação familiar (que família?), investimento do estado em políticas mais eficazes e menos higienistas, já pensei até em falar com os organizadores da marcha da maconha para que a próxima fosse realizada lá nas ruas da cracolândia, talvez transmitissem uma mensagem, tipo: troque de droga e viva mais tempo, sei lá. As vítimas do crack são inofensivas, impotentes diante de seu próprio problema que passa a ser nosso ao gerar violência, crime e roubo nas ruas, porém, quem está do lado de cá, só oferece inofensivas ações impotentes mais preocupadas com a beleza estética da cidade, enquanto tragando a morte no cachimbo que fuma as vidas, são punidas as inocentes vítimas doentes em nome de um Centro Legal, porém, amoral.