Este ano concluo o curso de Propaganda e Marketing e nada me
intriga mais, especificamente no Marketing, que as insistentes afirmativas
de valorização dos clientes e sua importância determinante nas
tomadas de decisões estratégicas para uma empresa/marca/produto. Não me lembro
de uma única aula teórica de marketing em que não tenha ouvido: “o cliente deve
ser a prioridade, devemos conhecer o cliente para atender às suas necessidades,
ele é o mais importante capital de uma empresa e que o cliente isso, e que o
cliente aquilo...”, portanto, o cliente/consumidor constituía uma espécie de
semideus no mercado, ele ditava as regras, estabelecia doutrina e habitava no
incólume castelo onde sua vontade imperava soberana sem jamais ser discutida, imortalizada pelo ditado: o cliente tem sempre razão;
consequentemente, meus amigos e eu, quando no mercado, não poderíamos nos
atrever a fazer outra coisa senão viver em função deste dogma, pois somente isto
seria a glória de uma instituição paradisíaca – a empresa perfeita.
Assim funcionava meu ingênuo raciocínio, até que um dia, o que lá no fundo eu suspeitava com sutil desconfiança, revelou-se
verdadeiro. Ouvi de um sábio docente: “se o cliente não é fiel
e rentável, mesmo sendo cliente e estando interessado, não compensa investir
nele”; entendi que, em certo sentido, e, em momento específico, há exceção. Também
no marketing uma pessoa pode valer apenas cifrão e sua necessidade ou desejo
passa a ser um nada, em relação à necessidade ou desejo da empresa. OMG (Oh my
God!), o castelo era de areia, minha ingenuidade colossal e as teorias não
passavam de pseudo verdades do marketing ortodoxo. As escamas caíram dos meus olhos e o
oculto ficou claro – veio à luz – o mundo de sempre continua a ser o mesmo
mundo de antes, apenas as formas de relacionamento entre as pessoas adquiriram outros
nomes e estruturas maiores, realizando porém, a mesma troca de valores. Claro
que com a conveniente esperteza da natureza humana aperfeiçoada no curso da
história. Chegando a ser apenas, não sempre, “uma troca de valores por quem não
tem mais valores”.
Dramas à parte e ironia também, esta é a realidade, somos vítimas da verdade do segundo parágrafo acreditando porém, fazer parte do que foi escrito no primeiro.
Nós sabemos da existência deste processo de
supervalorização da empresa, em detrimento da valorização do cliente. E se não fazemos
nada para mudar é porque deve estar confortável, ou pelo menos aceitável e
suportável – duvido – mas enfim, o que me inquieta não é somente a constatação destes fatos, sempre que esperamos nas imensas filas dos estabelecimentos, ou o
tempo perdido tentando falar com as atendentes no call center, ou
a qualidade do produto/serviço comparada ao preço, nem mesmo o atraso revoltante na entrega de uma mercadoria adquirida via internet. O que
realmente causa frustração, é aprender a fazer veneno na Universidade e vende-lo como remédio, mesmo sabendo o efeito colateral provocado ao ingeri-lo. Além disso, para o produto/serviço não ser rejeitado pelo cliente, as estratégias de marketing recebem a camuflagem da Propaganda, ela torna tudo esteticamente belo, visual e auditivo; o veneno passa a ter rótulo de
remédio, gosto de xarope e resultado de sonífero. Mas caso você esteja interessado numa crítica mais fundamentalista sobre o assunto, pode encontrar no livro A Publicidade é um cadáver que nos sorri de Oliviero Toscani, porém não reproduz minha opinião, apesar de acreditar neste extremo de ganância em casos pontuais.
Calma gente! Não estou
massacrando minha própria profissão, e a partir de agora, afirmo a possibilidade de um caminho diferente,
despontando ainda tímido no horizonte, porém em momento muito pertinente. Sabe qual é este caminho? Tornar o sonho do primeiro parágrafo uma realidade, transformando o segundo parágrafo em passado. Quem chegar primeiro ganha o filão por competência, quem tratar o
cliente como trata a si mesmo terá o mundo em sua...ia dizer mão, mas pra não soar clichê, direi: terá o
mundo em seu bol$o. Isto é possível? Sim! Se o marketing e a propaganda forem veículos de propagação da verdade, este caminho pode ser trilhado com sucesso. No entanto, se o caminho a ser seguido
daqui para frente não for este, esquece esta conversa de responsabilidade
social, ambiental, sustentável e blá, blá, blá. Hoje o marketing e a propaganda estão convidados, se não obrigados, a educar o consumidor a consumir. Como se colocassem uma imensa tarja de atenção do Ministério da Saúde em tudo, semelhante àquelas do maço de cigarro, para imortalizar outro ditado bem menos atraente, principalmente aos que atualmente vivem só de aparências: “tudo que é demais faz mal”...e faz mal a todos. Por isso o melhor a fazer é adotar a Regra de Ouro na Propaganda e Marketing do futuro: “o que quer que os outros vos façam, fazei primeiro a eles"...somos todos consumidores e queremos ser bem tratados – alguém vai dizer que estou abusando da analogia bíblica; estou mesmo! Mas o que há de errado nisso? Se no mundo atual veem uma marca preferida como deus, no slogam um estilo de vida e são consequentemente tratados por ela pelo título de "fiéis evangelizadores de marca"?
Consuma menos. Viva mais. Do contrário, vamos abrir concordata global do ser humano. Marketing de fachada não dá mais e consciência é saber que há lugar e dinheiro para todos neste mundo.