Tudo começou na última terça-feira, 16 de outubro, quando
Rafael Nunes da Silva abordou Indy Zanardo e fez o seguinte pedido desconexo: “tire uma foto minha
que eu quero ficar famoso no rádio.” Ele é inteligente e parecia já ter percebido o comportamento característico da frenética vida moderna, do qual fazemos parte e sequer nos damos conta
disso. Ou seja, ao pedir uma foto que repercutisse no rádio, ele afirmava duas
coisas que fazem parte do nosso cotidiano.
A primeira é que vivemos num mundo onde a comunicação é
multiplataforma, então, basta você fazer parte de uma mídia, para em pouco
tempo repercutir em todas elas. E a segunda coisa, que infelizmente não se constitui um avanço, mas
um regresso, é que atualmente a vida real precisa se tornar conteúdo virtual para
aparecer aos nossos olhos.
Afinal, quantas crianças, adolescentes, adultos e idosos, sofrem do mesmo problema trágico de Rafael Nunes e não são repercutidos com tanto
sucesso? Claro, eles não têm o padrão de beleza estética que causa a admiração dos
nossos olhares, viciados em selecionar as pessoas pelas aparências e não pela
importância humana. Não me excluo disso e não quero generalizar, mas somos todos, ou pelo menos a maioria, vítimas dos condicionamentos impostos pela própria mídia que repercutiu o
modelo de rua, porém, não consegue repercutir eficazmente o modelo da verdadeira vida nas ruas.
Quer ver como eu não estou exagerando? Qual foi o primeiro
pensamento que veio à cabeça das pessoas? Ah...isto tem cheiro de estratégia de
marketing; isto é mais um viral de marca na internet; olha outra propaganda aí; e mais
que isso, teve até o oportunismo de uma marca que pegou carona na fama de quem
não tem grana, pra ver se ganhava algum retorno de engajamento (ROE). Eles
apagaram a postagem, mas eu já havia printado a tela do pretenso marketing de
emboscada da Barbearia Clube.
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Enfim, o que podemos aprender com tudo isso? Podemos aprender
que vale a pena de vez em quando, tirar os olhos das telas dos computadores de
mesa, de colo e de mão, para dar uma espiada em volta. Quem sabe encontramos mais Rafaeis que queiram ser fotografados e popularizados, pra ver se a gente
enxerga a realidade. Tudo bem que os familiares do ex-modelo relatam nas matérias
dos jornais, o fato de ele “não querer” sair das ruas (como se atualmente ele
conseguisse decidir por algo em sã consciência) e dizem ainda: “das várias
vezes que foi internado, nenhuma durou mais que dez dias”, porém, existem muitos
outros que querem ser ajudados, e estes, ainda estão sem likes, comentários ou
compartilhamentos.
É como falei na conversa com minha prima, Clau Boaventura, antes de escrever este texto: "Se
a beleza de Rafael Nunes da Silva servir para reacender uma discussão que leve a
alguma solução, tá valendo a grande repercussão."
Talvez você entenda melhor meu interesse pelo caso, ao ler também o texto: QUEM.
(Sobre as milhares de meninas e mulheres que se ligaram mais na beleza dele do que
na realidade dramática deste problema social, esta é uma grande oportunidade para
repensar o lugar da procura do pretenso homem dos sonhos rs.)
acredito que se deixar guiar pelas aparências, que é algo superficial, revela uma mentalidade de quem assim se guia, também superficial; pessoas profundas percebem coisas profundas, pessoas superficiais só veem o superficial. Esse explodir me parece que se dá pelo fato extraordinário de o mendigo ser bonitão...(CURITIBANO,CLARO! POIS TUDO EM CURITIBA É LINDO) heheheh brincadeiras à parte... enfim, mas o sucesso da beleza também revela, a meu ver, uma sociedade que está se tornando superficial, presa em si, cega às necessidades alheias... todos postam e comentam sobre o tal Rafael... mas me digam, quem o ajudou realmente até agora?! mas acredito que vai aparecer, afinal, vai dar ibope!
ResponderExcluirPois é! O preconceito é raiz de vários de nossos problemas sociais. E acho que o grande incômodo e atenção que esse caso recebe é devido as escolhas do protagonista. Casos assim sempre repercutem de forma extraordinária, mais pela necessidade de movimentar um engrenagem midiática do que pela necessidade de ajudar ao próximo. Eu sempre olhei estes acontecimentos como uma forma de redenção coletiva, como se a exposição e a solidarização por si só, resolvessem questões de mesma natureza de um forma geral e instantânea. Há sempre inúmeros interesses dentro de um ação qualquer, sejam bons ou ruins( é ingênuo pensar que todo mundo é abnegado em suas ações) A intenção é boa, pode contribuir para uma discussão. Mas experiências parecidas nos mostram que este não é ou seria o caminho ideal. Porém, somos seres em evolução. Ainda não encontramos o caminho e, errar faz parte do processo de evolução. O ruim disso é que o erro tem se repetido muitas e muitas vezes.
ResponderExcluirLouise Salomé