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23 de jul. de 2013

Quem ama vive menos

É quando o amor por alguém chega e domina que a vida parece ser mais curta, pois há um imenso desejo de estar sempre junto de quem se ama e nenhum tempo é suficientemente bastante para saciar este desejo.


Por isso dá para aceitar que quem ama tem vida curta, mas quem não ama tem tempo de sobra para viver correndo atrás do que vale menos. Já dizia Cora Coralina“[...] sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela [...] seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”

O amor também arranca coisas que não queremos dar, filtra impurezas e alimenta os estímulos. Ele é o mistério, pois não pode ser explicado, e se não é explicado, não pode ser entendido, deve ser vivido, experimentado e agarrado para preencher os espaços vazios que ficaram das coisas que foram arrancadas. No fim, amor é alívio e tensão, descanso e constante dedicação. É um misto de sentimentos benditos, mas quando em atrito, é um mal a ser suportado. Já que ninguém ama impunemente.

Vivendo por dentro este gostoso paradoxo, Carlos D. de Andrade escreve: “Ainda que mal pergunte, ainda que mal respondas; ainda que mal te entendas, ainda que mal repitas; ainda que mal insista, ainda que mal desculpes; ainda que mal me exprima, ainda que mal me julgues; ainda que mal me mostre, ainda que mal me vejas; ainda que mal te encare, ainda que mal te furtes; ainda que mal te siga, ainda que mal te voltes; ainda que mal te ame, ainda que mal o saibas; ainda que mal te agarre, ainda que mal te mates; ainda, assim, pergunto: me amas? E me queimando em teu seio, me salvo e me dano...de amor.”

Como é bom saber também que o amor não acaba, não aquele amor rótulo de qualquer outro sentimento bom e forte, mas o amor mesmo, o de verdade. Um que não é paixão avassaladora, mas imersão sorrateira, não aquele sentimento de fogo na carne, mas aquele de incandescência suave. Algo pelo qual vale a pena lutar e enfrentar as consequências, ainda que a última consequência seja o fim da vida curta que temos, mesmo assim, não pare, não pare de amar; foi o que ensinou Helder Câmara“Não, não pares. É graça [...] começar bem. Graça maior, persistir na caminhada certa; manter o ritmo...Mas a graça das graças é não desistir. Podendo ou não podendo, caindo, embora, aos pedaços, chegar até o fim...”

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