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2 de fev. de 2012

As famigeradas sacolinhas plásticas

Inventado por Alexander Parkes (inglês) em 1862, o plástico (do grego plastikós - próprio para ser moldado ou modelado) até poucos anos atrás era obtido apenas a partir do petróleo, hoje, também pode ser produzido à base de matérias-primas renováveis como cana-de-açúcar, amido de milho, óleos de girassol, soja e mamona, criando os plásticos biodegradáveis ou tecnicamente hidro-biodegradáveis e os oxibiodegradáveis, todos ainda duvidosos em sua eficácia. O plástico ganhou o mundo principalmente a partir de meados do século passado, reduzindo custos comerciais e alimentando impulsos consumistas. À medida que a ciência produziu novas resinas para aprimorar suas propriedades, as aplicações se multiplicaram, devido às características bastante atrativas, como: praticidade, força e resistência, durabilidade, baixo peso, assepsia, proteção contra água e gases, resistência à maioria dos agentes químicos, boa processabilidade, baixo custo etc. Contudo, ele persiste decadas² no meio ambiente. Logo, a versátil invenção econômica e pratica do passado, se constitui um imenso abacaxi do presente, a ser descascado no futuro. 

Mas já que o foco do momento são as famigeradas sacolinhas de plástico, vamos a elas. Estima-se no mundo o uso de 1 milhão de sacolas por minuto, quase 1,5 bilhão por dia, mais de 500 bilhões poa ano. Seu descarte irresponsável é um dos principais responsáveis pelo entupimento da drenagem urbana e pela poluição hídrica, sendo encontradas até no aparelho digestivo de alguns animais. Além disso, contribuem na formação de zonas mortas com até 70 mil km no fundo dos oceanos. No Brasil, a cada mês, 1 bilhão de sacolinhas são, ou eram (sei lá), distribuídas pelos supermercados; significa 33 milhões por dia e 12 bilhões por ano. Só no estado de São Paulo são consumidos 2,5 bilhões de sacolas por ano, cerca de 700 por habitante. Claro que diante destes dados, minimizar o consumo de sacolinhas, reduzindo seus efeitos nocivos ao planeta, deve ser uma constante em nossas atitudes – todos concordam!? Afinal, a preservação do meio ambiente é urgente, pois o problema a ser enfrentado é um verdadeiro pepino global em nossas mãos.

Por estas e outras, o Governo de São Paulo a exemplo de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Paraná, Recife e Espírito Santo, que seguiram por sua vez, o exemplo de EUA, Reino Unido, China, Irlanda, Ruanda, Quênia, Uganda, Somália, Bangladesh e Itália, decidiu amplificar a discussão sobre a proibição das sacolas plásticas, ou medida restritiva, como queiram, através de um acordo com as grandes redes supermercadistas representadas pela APAS – acordo que não é Lei – até porque a Lei foi suspensa e o acordo era a única saída para nos prejudicar ainda mais, com incômodos + R$0,19 p/un. A polêmica cresceu e passou a ser o assunto corrente em tudo que se chama mídia, produzindo uma montanha de abobrinhas sem precedentes sobre o tema e o que é pior, sem chegar a nenhum consenso satisfatório.

Então, diante do plástico como grande abacaxi, do pepino ambiental e deste monte de abobrinhas argumentativas (talvez...inclusive até estas minhas), decidiram escolher um bode expiatório, escondendo sob, ou dentro dele, tudo que causa danos ao pobre planeta – o nome do bode é: sacolinha. Cômico não? A tentativa foi colocar na frágil sacolinha o pepino, o abacaxi, as abobrinhas e o próprio bode, por isso ela se rompeu caindo problema para todos os lados em forma de polêmica generalizada.  Nós sabemos que não cabe dentro da sacolinha o carbono, o combustível, o desmatamento, o consumo excessivo de energia, a poluição química das águas, vazamentos de petróleo, os agrotóxicos alimentares e etc; convenhamos, são muito mais nocivos e diga-se de passagem, não recebem a mesma repercussão. Porém, isso não justifica continuarmos com o uso irresponsável das tais sacolinhas, mas justifica a indignação onde não há educação – Educação! – e lembre-se: o bom exemplo não é a melhor forma de educar, sim a única.    

Portanto, vamos combinar uma coisa? Se você não concorda com o acordo "para tirar o planeta do sufoco", pelo menos utilize menos sacolinhas e de forma consciente, se você é a favor do acordo, respeite a liberdade de todos e a democracia, pois nenhuma ideia pode ser enfiada à força na cabeça das pessoas em forma de Eco Bag, ou conseguida com o sufoco alheio. E já que estamos falando de plastikós (próprio para ser moldado ou modelado), vamos aproveitar  a oportunidade, aprender esta propriedade dele  e fazê-la uma virtude em nossa vida, moldando nossas atitudes às exigências dos novos tempos. Depois, todos juntos poderemos sem demagogia, tirar a cabeça da sacola e amplificar as vozes em uníssono, contra todas as outras formas piores, de agressão ao planeta.


Informações importantes:

Opinião contra da Plastivida;
Opinião favorável ao acordo Vamos Tirar o Planeta do Sufoco
Publicidade/Propaganda pode possibilitar a distribuição gratuita das sacolinhas novamente; 
Procon decidiu multar os supermercados que não oferecerem alternativa gratuita todo o dia.

9 comentários:

  1. Concordo com seu texto Marcelo. Pegaram a sacolinha para "bode expiatório", e fazem da sua proibição uma marketing de ambientalmente correto e sustentabilidade...
    Isso só atinge ao consumidor, não faz sentido levar saco de pano ou papel e colocar dentro o sacos plasticos com feijão, arroz, bolacha, oleo...

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    1. Obrigado pela contribuição Gustavo, estas formas interesseiras de ajuda nunca serão senão apenas camuflagem de enriquecimento.

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  2. Nós temos um padrão comportamental (e de consumo) ambíguo e, por que não dizer, hipócrita. Sempre que ações mexem com os nossos hábitos e com o nosso comodismo, a resposta vêm rápido, em forma de indignação e surgem, como você disse, as "abrobrinhas sem precedentes"rs...Claro que o "buraco é mais embaixo", mas o fato é que aprendemos a jogar a responsabilidade, desde muito cedo, nas costas dos outros.
    Parabéns por mais um excelente post...Interessante e informativo...

    Louise Salomé

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    1. Exatamente, falta essa referência cultural de cuidado do meio ambiente e um senso de pertença ao planeta, como quintal de casa. Obrigado pelo elogio, sua contribuição é sempre muito bem-vinda e importante.

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  3. Marcelo,
    Eu acho que toda essa reclamação e revolta aconteceu porque os mercados querem fazer o certo de forma errada.
    Na minha opinião, uma BOA campanha de comunicação com seus clientes e capacitação com os colaboradores explicando as implicações da sacola em seu uso desmedido, deveriam reforçar a informação de forma positiva, propositiva antecedendo esse "acordo".
    Os colaboradores/ caixas deveriam ser orientados de forma a auxiliar na retirada gradativa da sacola e isso diminuiria absurdamente o número de queixas em torno do assunto.
    Mas o que vtenho visto são as moças dos caixas penando na mão dos mal criados e dizendo apenas: não posso fazer nada, agora é proibido! - falta muita informação para muita gente, infelizmente...
    Sou a favor da ecobag SIM, utilizo há mais de 10 anos a famosa sacola, que nem era tão famosa assim, é questão de hábito. Tenho várias daquelas de feira no porta malas do carro, tenho uma pequena, dobradinha na bolsa...
    Enfim, como educadora ambiental, acredito que nada que é imposto, colocado goela abaixo é legal ou dá resultados duradouros. Entender todo processo e ganhar a adesão das pessoas custaria bem menos do que toda essa encheção de saco e absurdos publicados todos os dias (não tô falando do seu texto, mas de umas frases medíocres que circulam no facebook).
    Bela explanação e bom para reflexão. Parabéns!
    Bju
    Hegli

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    1. É sempre uma honra receber aqui um comentário seu, afinal vejo você como educadora nesta causa ambiental e prefiro aprender com você do que pretender ser conhecedor desta causa. Quando escrevi este texto desejei que vc contribuísse com ele para enriquecer o conteúdo com conhecimento de causa à altura - obrigado!

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  4. --

    Eu achei o Post muito comprido...
    Dá pra postar um resumo?

    --

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    1. O resumo está no parágrafo 3º, vlw pela honra da sua visita.

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  5. Não me causará espanto o dia em que os ambientalistas mais ortodoxos começarem a perseguir até mesmo os cirurgiões plásticos, os artistas plásticos...

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