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8 de fev. de 2012

Papai, mamãe, se troquem que vamos ao fast-food!

Eu sou um apaixonado entusiasta da propaganda, com todos os seus recursos honestos, criativos, inteligentes e humorísticos de publicidade, ancorados nas estratégias mercadológicas construídas a partir das pesquisas de mercado, e sei perfeitamente que a propaganda influência – muito – no psicológico da pessoa, na formação de hábitos comportamentais de consumo e no relacionamento de cada pessoa com o outro, com as coisas e consigo mesmo, mas convenhamos sem drama: ninguém é mais afetado por ela que as crianças. Só que convenhamos também, sinceramente, que até quem levanta a bandeira da “não publicidade” voltada aos desejos e interesses das crianças, precisa vender o seu peixe, então nada de combater a publicidade, alegando ser a exclusiva causadora dos males denominados: obesidade infantil, anorexia, vícios diversos, síndrome do consumismo e etc. 

Vamos discutir primeiro, a influência determinante dos hábitos de consumo dos pais (ou adultos responsáveis) em relação às crianças e a educação nas escolas públicas e privadas. Aliás, propaganda não tem como função primordial educar, apesar deste fato não anular sua responsabilidade coadjuvante no processo, antes, propaganda existe essencialmente para informar/anunciar, portanto, televisão, vídeo game, computador, smartphone, tablet, jornais e revistas são seu habitat natural de estímulo ao consumo. Quem acompanha meu blog pode ter a impressão de uma contradição em relação ao texto Marketing de faxada in-sustentável, onde escrevo: “Hoje o marketing e a propaganda estão convidados, se não obrigados, a educar o consumidor a consumir” Afirmo não haver contradição, mas compreensão do termo "estão convidados, se não obrigados" como uma participação auxiliar - coadjuvante! É claro, devem ser evitados exageros, mas, publicidade precisa mexer na imaginação, seduzir, envolver, ou então não subsistiria em si mesma e haveríamos de condenar também os livros, filmes, peças teatrais, desenhos, desfiles de moda e tudo mais que possa influenciar na formação de um hábito, digamos indesejado, na criança. No entanto, seria  uma censura, ou seja, ato anti-educativo.

Ainda não tenho filhos, o que reduz consideravelmente minha autoridade para falar de educação dos filhos, porém, posso fundamentar este texto em alguns dados constrangedores: 99% dos pais e 98% dos filhos declaram assistir a TV juntos, 89% dos filhos e 90% dos pais dizem que navegam juntos na internet e 91% dos pais afirmam ler com os filhos. Mas é na frente da TV que a coisa pega; 83% dos pais dizem perceber o interesse das crianças em determinados produtos, aumentando o interesse em datas especiais e muitas vezes, os filhos expressam claramente seu desejo no momento da propaganda. E se a criança aprende seus primeiros passos para o consumo, com os detentores da grana dentro de casa, não há de se esperar uma responsabilidade primordial da conduta familiar, liberando ou retraindo o consumo de seus pequenos?

A ação conjunta é a solução de bom senso, afinal nenhuma criança manda pai e mãe se arrumar para ir comer no fast-food gordurento, ou manda ir ao shopping gastar com moda no cartão de crédito, a não ser que aprendeu este caminho antes e de forma desordenada. Esta questão não é brincadeira e precisa ser vista à luz de alguém menos ignorante que eu, por isso, concluo com o testemunho da minha amiga Hegli Kovacic, mãe e educadora pós-graduada em educação ambiental; ela escreveu o seguinte em seu blog: “Desde pequeno nós (meu filho e eu) conversamos sobre o ato de consumir, fazemos perguntinhas simples que nos ajudam a definir uma compra: Eu preciso disto? Isto vale o preço que estão cobrando? Como e onde isso foi fabricado? Sempre tentei abarcar os aspectos ambientais, econômicos e sociais de forma didática e simples.” Visite Educação Ambiental Contemporânea e veja qual foi resultado obtido na criança que ela educou.

Mas, se você tentar e não conseguir o mesmo resultado com os seus filhos, não tenha tanta pressa, porque educação não é feita em 30 segundos de propaganda, na visita de um site ou com a leitura de uma página de revista - insista não desista! Tão pouco transfira plena culpa à parcialmente responsável Publicidade.


4 comentários:

  1. Muito interessante e reflexivo o texto. Vale ressaltar que instituições mercadológicas são frias e, não por serem dirigidas por carrascos gananciosos como alguns pregam, mas sim por que esta é a sua principal finalidade, lucrar. Penso em relação ao tema que cada qual tem a sua parcela a ser cumprida, ou seja, os pais educam e dão exemplo, a escola prepara e serve de base, o governo promove proventos de continuidade e a propaganda... Ora! A propaganda vende. kkk

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    1. Exatamente, ou então, para que teria ela vindo ao mundo...vlw pela contribuição.

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  2. Caro amigo, concordo com o seu texto.... em partes, partes pequenas, kkkkkk, mas concordo.

    Realmente a “propaganda não tem como função primordial educar, apesar deste fato não anular sua responsabilidade coadjuvante no processo”, ou seja, somente pelo fato de não ser educativa, ela não pode influenciar a criança de modo a ela se sentir uma porcaria de gente se não tiver o tal brinquedo, ou comer o tal chiclete, ou beber o tal suco...
    Eu entendo a publicidade infantil necessária para fazer a propaganda, propagar, mostrar o que é, para que serve, para que faixa etária é o produto em questão, mas discordo que para as crianças, ela NECESSITE “seduzir, envolver” porque a criança não tem discernimento ainda para não ser pega por essa cilada e nós pais não estamos 100% do dia com elas.
    Sei que a formação em casa é importante, mas nem sempre a “criança aprende seus primeiros passos para o consumo, com os detentores da grana dentro de casa”, ela quer no fundo se sentir aceita, se sentir na moda, acompanhar a turma. Na minha visão de mãe, as propagandas infantis dizem (em outras LINDAS palavras e imagens, óbvio): se vc não comprar isso, vc é um derrotado, tá fora de moda, é inadequado, não tem o que há de melhor, é desinformado, é a pior pessoa do universo...
    E para finalizar, outras propagandas, promovem coisas que por si só já são condenáveis fazendo de conta que é a coisa mais normal do mundo, por exemplo, sutiãs com enchimento para meninas de 6 anos, refrigerante em forma de champagne das princesas, armas e metralhadoras para os pequenos em formação serem os “melhores”, e aqui a lista é sem fim...
    Então entendo que a publicidade precisa de liberdade, mas já que muito publicitário não tem o menor discernimento, é preciso uma regulação sim meu amigo, para nortear alguns desses publicitários, ajudar alguns pais sem noção e proteger as crianças dos exageros da sedução desse universo da propaganda.
    PS. Obrigada pela elogiosa citação do meu blog.
    Bjus

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  3. Ufa, pelo menos acertei alguma coisa, afinal quando comecei escrever, já entrevendo que a conclusão seria aquele seu testemunho, sabia que ia enfrentar uma barra pela frente, mas apesar de ter uma visão bem mais publicitária do que materna, ou no meu caso, paterna, concordo com você nesta questão da influência sedutora que inferioriza aquele que não tem condições de obter o produto desejado. Bom, claro que não vou me atrever a discutir e por isso, não vejo outra saída, se não continuar este post em outro para o fim de semana. Sempre uma honra ter você por aqui Hegli, as ideias se complementam e a reflexão fica mais rica - exatamente o proposto - sempre há controvérsias, mas para o que não há, existem leis que tratarei no próximo texto. Bjo!

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