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5 de jan. de 2012

A imponente cracolândia dos impotentes


Tem circulado na mídia, sobretudo a do eixo Rio/São Paulo, as decisões de seus respectivos governos sobre o problema do crack, a pior droga em potencial destrutivo e que está circulando livremente nestes grandes centros. De um lado a polêmica decisão do poder carioca em aproveitar uma brecha no Estatuto do Menor para a internação compulsória dos infanto-dependentes, sem saber o que fazer com quem não está incluso nesta condição, já em São Paulo a polêmica é outra, sem a internação compulsória, acreditam no enfraquecimento da permanência dos “zumbis pós-modernos” na região, através do suposto combate exterminador de traficantes do  Velho Centro (daqui pra frente foco em sampa porque vivo aqui). A polêmica inclui ainda as ONGs, de cunho espiritual ou não, chegando até à simples lógica do desenvolvimento urbano, que realiza uma política higienista – mesmo que o lixo seja gente – dando espaço à Nova Luz, ironicamente acesa nas trevas sem oferecer luz aos seus condenados.


Morei por dois anos e meio na região da cracolândia, na Rua Conselheiro Nébias, Campos Elíseos, e o que via naqueles quarteirões era a máxima degradação a que um ser humano pode se submeter, em princípio por própria vontade, curiosidade ou estímulo do meio e depois, já sem condições de consciência ou domínio da própria vontade, entrega sua vida ao sacrifício sem nenhuma perspectiva, imolando com ele família e familiares, quando existem. Certas vezes ao cair da tarde ou mesmo à noite, caminhei entre aquelas PESSOAS; homens, mulheres (muitas gestantes), velhos e crianças, retrato da dignidade humana transformada em um aglomerado disforme de seres – desespero.

Qual o limite do flagelo que uma pessoa pode impor a si mesmo? O que EU sou capaz de fazer por aquela pessoa? E; o que é capaz de sensibilizar o poder público além do dinheiro movendo sua imoral conduta? O desespero aumenta. Então olhamos para o lado rico do mundo/agora falido, onde as drogas foram permitidas sobre certas condições, onde houve subsídio do governo para distribuição de entorpecentes aos usuários, ou ainda, onde se fecha o cerco às drogas sem dó nem piedade, e o que vemos? Fracasso! Não conheço uma política antidrogas, considerada modelo ou solução determinante para o problema, no máximo, e agora voltando o olhar para a América Latina, vemos países que tem a própria economia dependente das drogas – isso sim deu certo – mais desespero!

Por isso não sei bem a quem direcionar a responsabilidade pela solução do problema. Educação pública ou privada, educação familiar (que família?), investimento do estado em políticas mais eficazes e menos higienistas, já pensei até em falar com os organizadores da marcha da maconha para que a próxima fosse realizada lá nas ruas da cracolândia, talvez transmitissem uma mensagem, tipo: troque de droga e viva mais tempo, sei lá. As vítimas do crack são inofensivas, impotentes diante de seu próprio problema que passa a ser nosso ao gerar violência, crime e roubo nas ruas, porém, quem está do lado de cá, só oferece inofensivas ações impotentes mais preocupadas com a beleza estética da cidade, enquanto tragando a morte no cachimbo que fuma as vidas, são punidas as inocentes vítimas doentes em nome de um Centro Legal, porém, amoral.


3 comentários:

  1. há controvérsias....
    e
    há concordâncias !!!
    veja:
    http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/

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  2. Para quem pretender aprofundar nas controvérsias:
    http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-retomada-da-cracolandia-homens-de-bem-tem-de-renovar-sua-confianca-no-estado-democratico-os-bandidos-tem-de-teme-lo-ou-o-%e2%80%9cespecialista%e2%80%9d-como-mau-engenheiro-social/

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  3. Vlw Gustavo pela sua contribuição, porque desta forma conseguimos ter uma visão mais ampla do mesmo assunto, comentado por pessoas que vivem na mais variadas condições de afetação que a cracolândia pode provocar, não posso expor isso com tanta ênfase, mas o fato de eu falar como ex-usuário, ajuda na construção do meu comentário. Ah, e eu gosto muito de Reinaldo Azevedo apesar dos pesares rs.

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