Tem circulado na mídia, sobretudo a do eixo Rio/São Paulo,
as decisões de seus respectivos governos sobre o problema do crack, a pior droga em potencial destrutivo e que está circulando livremente
nestes grandes centros. De um lado a polêmica decisão do poder carioca em aproveitar uma brecha no Estatuto do Menor para a internação compulsória dos
infanto-dependentes, sem saber o que fazer com quem não está incluso nesta condição,
já em São Paulo
a polêmica é outra, sem a internação compulsória, acreditam no enfraquecimento
da permanência dos “zumbis pós-modernos” na região, através do suposto combate exterminador
de traficantes do Velho Centro (daqui pra frente foco em sampa porque vivo aqui). A polêmica inclui ainda as ONGs, de cunho
espiritual ou não, chegando até à simples lógica do desenvolvimento urbano, que
realiza uma política higienista – mesmo que o lixo seja gente – dando espaço
à Nova Luz, ironicamente acesa nas trevas sem oferecer luz aos seus
condenados.
Morei por dois anos e meio na região da cracolândia, na Rua
Conselheiro Nébias, Campos Elíseos, e o que via naqueles quarteirões era a máxima degradação a que um ser humano pode se submeter, em princípio por
própria vontade, curiosidade ou estímulo do meio e depois, já sem condições de
consciência ou domínio da própria vontade, entrega sua vida ao sacrifício sem
nenhuma perspectiva, imolando com ele família e familiares, quando existem. Certas
vezes ao cair da tarde ou mesmo à noite, caminhei entre aquelas PESSOAS; homens,
mulheres (muitas gestantes), velhos e crianças, retrato da dignidade humana
transformada em um aglomerado disforme de seres – desespero.
Qual o limite do flagelo que uma pessoa pode impor a si
mesmo? O que EU sou capaz de fazer por aquela pessoa? E; o que é capaz de
sensibilizar o poder público além do dinheiro movendo sua imoral conduta? O
desespero aumenta. Então olhamos para o lado rico do mundo/agora falido, onde
as drogas foram permitidas sobre certas condições, onde houve subsídio do governo para distribuição de
entorpecentes aos usuários, ou ainda, onde se fecha o cerco às drogas sem dó
nem piedade, e o que vemos? Fracasso! Não conheço uma política antidrogas,
considerada modelo ou solução determinante para o problema, no máximo, e agora
voltando o olhar para a América Latina, vemos países que tem a própria economia
dependente das drogas – isso sim deu certo – mais desespero!
Por isso não sei bem a quem direcionar a responsabilidade
pela solução do problema. Educação pública ou privada, educação familiar (que
família?), investimento do estado em políticas mais eficazes e menos
higienistas, já pensei até em falar com os organizadores da marcha da maconha
para que a próxima fosse realizada lá nas ruas da cracolândia, talvez transmitissem uma mensagem, tipo: troque de droga e viva mais tempo, sei lá. As vítimas
do crack são inofensivas, impotentes diante de seu próprio problema que passa a
ser nosso ao gerar violência, crime e roubo nas ruas, porém, quem está do lado
de cá, só oferece inofensivas ações impotentes mais preocupadas com a beleza
estética da cidade, enquanto tragando a morte no cachimbo que fuma as vidas, são punidas as inocentes vítimas doentes em nome de um Centro Legal, porém, amoral.
há controvérsias....
ResponderExcluire
há concordâncias !!!
veja:
http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/
Para quem pretender aprofundar nas controvérsias:
ResponderExcluirhttp://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-retomada-da-cracolandia-homens-de-bem-tem-de-renovar-sua-confianca-no-estado-democratico-os-bandidos-tem-de-teme-lo-ou-o-%e2%80%9cespecialista%e2%80%9d-como-mau-engenheiro-social/
Vlw Gustavo pela sua contribuição, porque desta forma conseguimos ter uma visão mais ampla do mesmo assunto, comentado por pessoas que vivem na mais variadas condições de afetação que a cracolândia pode provocar, não posso expor isso com tanta ênfase, mas o fato de eu falar como ex-usuário, ajuda na construção do meu comentário. Ah, e eu gosto muito de Reinaldo Azevedo apesar dos pesares rs.
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