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16 de fev. de 2012

Carnaval de enredo errado – onde foi que erramos?

Mais um ano que o Brasil desfila para o mundo no ritmo dos enredos junto com todos os brasileiros, ou melhor, quase todos. O carnaval é a maior festa popular do planeta e nela, festejamos a cultura e a alegria do povo através da arte, dança e muita música; existem outras coisas misturadas aí no meio, mas eu comentarei no decorrer do texto. O carnaval é sim, uma face da identidade cultural do país, apesar de muitos não gostarem, nem de longe, da apoteótica afirmação: Brasil, país do Carnaval! Porém, é inegável que nele esteja contido e preservado – em alguns momentos penso que esteja deteriorado – um patrimônio de tradição, cultura, folclore, história, arte, música entre outros aspectos sócio-euro-afro-brasileiros. E se esta festa internacional é algo assim tão bom, que reúne milhões de pessoas do mundo inteiro nas avenidas e salões, para festejar, cantar, dançar, pular e etc (este "etc" nunca esteve tão carregado de malícia e duplo sentido), então, o que há de errado com o carnaval? Nada!

Definitivamente o erro não está no carnaval em si, seja no salão ou na avenida, regado ao que quer que seja, pois os foliões são todos de maior e cidadãos livres em um país democrático – pelo menos teoricamente. Afinal, mesmo os contrários à festa, e mesmo os mais conservadores, têm seus dias de devaneio, ainda que depois escondam seus desvarios por de trás da máscara social do politicamente correto. Entendam, não existe mal no carnaval, só porque é uma festa popular de adesão em massa. Os que se irritam com isso é porque não conseguiram a mesma adesão em seus empreendimentos. O verdadeiro perigo é que a maioria não consiga, depois que ele acabar, diferenciar a ornamentada farra foliônica e as fantasias alegóricas, da realidade cotidiana. 

Seduzidos pelo enredo, acabam por viver errado o ano inteiro, sem considerar os quesitos que constituem uma nação campeã, ou seja, o povo deve estar na comissão de frente do país e não os políticos (preste atenção na próxima eleição); isto levará à evolução de seus valores, se também agirem todos em conjunto e harmonia a exemplo de uma bateria. Do contrário, o samba enredo da vida não será animado como o casal de mestre sala e porta bandeira, viverão de alegoria e adereços, tudo será fantasia.

Antigamente ainda tínhamos as marchinhas carregadas de expressões populares urbanas, críticas e até de protesto para ajudar, mas infelizmente e forçadamente, as marchinhas cederam lugar aos exércitos alegóricos de carros tecnológicos e enredos encomendados, fazendo marketing pessoal ou propagandas patrocinadas, por vezes eleitoreiras (eu confesso: ganho dinheiro com publicidade). Sem falar do erotismo explorado e posteriormente repercutido em dados estatísticos de violência contra a mulher. Posso até estar exagerando, no entanto, julgue você mesmo: será que se a mulher fosse evidenciada de outra forma, estas agremiações, constituídas verdadeiros formadores globais de opinião, não conseguiriam transmitir que a mulher brasileira é mais do que carne e sedução? 

Penso sinceramente que enquanto as escolas de samba não se tornarem escolas de consciência (moinhos de protesto), o povo não sairá para defender os seus direitos (mais ou menos como escrevi no primeiro parágrafo do texto: Um povo submerso e soterrado). Esta é a constatação, ao comparar a capacidade de mobilização do povo brasileiro em aglomerações, formadas nos eventos característicos da cultura do nosso país, com os protestos e manifestações de interesse público/político/social. Não é sóbria, a nação que esbraveja nas conversas dos corredores, elevadores, bares e restaurantes, indignada com a situação política e estrutural do país, deixando, no final das contas, tudo por isso mesmo. Deve existir na história, algo que comprove o momento da aplicação de um entorpecente na massa, ocasionando estas consequências crônicas – não me espantaria se nos próximos dias, encontrássemos indícios sintomáticos deste alucinógeno alienante por aqui e por ali, sem generalizar.

Curtam a festa, eu também vou, mas depois da passarela vamos desmascarar este país! Aliás, convenhamos, no Brasil, o ano só começa depois do carnaval.


5 comentários:

  1. Muitíssimo bom! Tomara que este ano seja diferente... Tomara que consigamos fazer tudo novo... Parabéns Marcelo! =D

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  2. Consciente. No fim do espero ver, ou ler as ações tiradas dessa linha de pensamento

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    1. Vlw pela contribuição e construamos nossos objetivos para o futuro rs.

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  3. POIS É ESSE ANO O CARNAVAL COM CERTEZA SERVIU PARA RETRATAR COMO NOSSO PAÍS ACABA ESQUECENDO AS CORRUPÇÕES,ESCÂNDALOS E DANDO IMPORTÂNCIA SIMPLESMENTE A UMA OPORTUNIDADE DE ESQUECER-SE QUE SE É POBRE E SE VESTIR, AINDA QUE POR UMA NOITE DE LUXO,DE GALA.
    ESCONDER-SE ATRÁS DE BRILHOS E PLUMAS.
    NO OUTRO DIA PASSAR FOME.
    E OS PRÓPRIOS DIRIGENTES DAS ESCOLAS DE SAMBA FILIADAS NA LIGA,PROMOVEREM UM "BARRACO" DE QUINTA CATEGORIA".COM DIREITO A VOADORA NO COMITÊ DE APURAÇÃO E CHEIRO DE CLOROFILA NO AR COMO DISSE UM DOS DIRIGENTES.
    ISSO RETRATA A DOENÇA DA SOCIEDADE COMO BEM DISSE O PROFESSOR DALCIDES EM UMA EMISSORA DE RÁDIO DE SÃO PAULO.
    CLARO QUE DE LONGE NÃO PODE SER NEGADO A UM SER HUMANO FAZER O QUE LHE APRAZ,VIVER UM DIA DE SONHO,DE ALEGRIA PARA ESQUECER AS AGRURAS DA VIDA,PORÉM É PRECISO ENCARAR A REALIDADE E LUTAR PELOS DIREITOS E PELA VERDADE COM O MESMO EMPENHO E DEDICAÇÃO.
    E TAMBÉM DIANTE DA VERGONHA QUE É NOSSO SISTEMA DE SEGURANÇA COMO SERÁ POSSÍVEL SEDIAR A COPA DO MUNDO!FICA A PERGUNTA NO AR...
    ESSA DISCUSSÃO É QUE VAI CAUSAR CONTROVÉRSIAS.
    QUE DEUS NOS AJUDE A LUTAR POR NOSSOS DIREITOE TER VOZ E TER VEZ.
    MARY ELLEN CONCATTO

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